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ARTIGO | Porto Alegre, da tragédia à farsa?

Prédio da Prefeitura de Porto Alegre, na Praça Montevidéu, Centro Histórico | Foto: Giullian Serafim/PMPA
Adriano Skrebsky Reinheimer, engenheiro civil, servidor público efetivo do DMAE/PMPA, diretor de Obras e Projetos do DEP (2002/2004), presidente do Comitê de Gerenciamento da Bacia Hidrográfica do Lago Guaíba (2018/2020) – Associado da Astec

As inundações de 1941 marcaram a história de Porto Alegre como um evento de proporções épicas. O Rio Guaíba, hoje Lago Guaíba, transbordou, inundando grande parte da cidade, causando mortes, deslocamentos em massa e danos materiais devastadores. Essa tragédia expôs a vulnerabilidade da capital gaúcha à força da natureza, exigindo respostas imediatas e medidas preventivas para evitar a repetição de tal desastre.

No contexto das inundações que assolaram Porto Alegre, em maio de 2024, ressoou-me fortemente a frase presente na obra seminal da teoria política e da historiografia, o livro “O Dezoito Brumário de Luís Bonaparte”, do filósofo alemão Karl Marx, escrito entre dezembro de 1851 e março de 1852, que inicia o capítulo I com a seguinte frase: “Hegel observa, em uma de suas obras, que todos os fatos e personagens de grande importância na história do mundo ocorrem, por assim dizer, duas vezes. E esqueceu-se de acrescentar: a primeira vez como tragédia; a segunda, como farsa”.

Mais de 80 anos depois, Porto Alegre viu-se novamente às voltas com inundações, em um cenário que, à primeira vista, poderia parecer similar à tragédia de 1941. No entanto, uma análise mais profunda revelou que a situação atual transcendeu a mera repetição de um evento natural, assumindo contornos de farsa. A extinção do Departamento Municipal de Esgotos Pluviais (DEP), em 2017, sob a gestão do então prefeito Nelson Marchezan Júnior, configura-se como o ato inaugural dessa farsa. O DEP, responsável pela gestão do sistema de drenagem urbana, foi desmantelado, desconsiderando sua importância crucial na prevenção de inundações. Desde a sua extinção, farsas em série se desenrolaram, exibindo o desleixo recorrente dos gestores. Enquanto as cheias de 1941 se encaixaram no perfil de uma tragédia, a situação atual apresentou características de uma farsa, expondo as falhas estruturais e a negligência crônica das autoridades. Responsáveis pela falta de investimentos em infraestrutura de drenagem, pela omissão em relação às áreas de risco e pela desconsideração de alertas meteorológicos, que muito contribuíram para o cenário caótico das inundações de 2024. Gestores, invariavelmente envolvidos em jogos políticos e burocráticos, sendo que a população de Porto Alegre é que pagará o preço. Visto que as inundações causaram transtornos imensuráveis, afetando a vida de milhares de pessoas, com perdas materiais, deslocamentos forçados e impactos psicológicos que podem durar anos, quiçá uma vida toda.

A situação em Porto Alegre exige mais do que medidas paliativas e discursos vazios. É necessário um olhar crítico e reflexivo sobre as falhas estruturais e o desmazelo que transformaram as inundações em uma farsa. A tragédia de 1941 serviu como um alerta, mas a farsa de 2024 exige uma resposta contundente e a implementação de medidas efetivas para evitar que a história se repita, não como farsa, mas como um capítulo de superação e aprendizado. É fundamental identificar e responsabilizar os responsáveis pela negligência que culminou nas inundações. Isso inclui autoridades públicas, empresas privadas e indivíduos que contribuíram para a degradação ambiental e a vulnerabilidade da cidade. A população tem o direito de acesso à informação clara e transparente sobre as medidas tomadas pelas autoridades para prevenir e mitigar os impactos das inundações. A omissão e a falta de comunicação só agravam a situação. A busca por soluções estruturais e sustentáveis para o problema das inundações é urgente. Isso inclui investimentos em infraestrutura de drenagem, políticas públicas de proteção ambiental e a promoção da consciência ambiental entre a população. A sociedade civil tem um papel crucial a desempenhar na luta contra a negligência e na busca por soluções. Mobilizações sociais, cobranças públicas e a participação ativa na construção de políticas públicas são ferramentas essenciais para a mudança.

Por fim, espero que as inundações de Porto Alegre em 2024 sirvam como um lembrete de que a tragédia de 1941 não foi um evento isolado, mas sim um alerta que não foi ouvido pelas autoridades. É hora de romper com a farsa da repetição e construir um futuro mais seguro e resiliente para a capital gaúcha.

 

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