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5º Café Temático | “Uma cidade pode muito!”

“Não falta conhecimento para mitigar efeitos sobre o clima”, garantiu Gerson Almeida, ex-secretário da SMAM | Fotos: Ruvana De Carli/CarliCom

“Uma cidade pode muito!” A afirmação foi feita pelo sociólogo Gerson Luiz de Almeida Silva, convidado do 5º Café Temático da Astec, sobre “Meio Ambiente em Debate: a importância do conhecimento técnico”, realizado na terça-feira (11/06). Mestre em Sociologia, e titular da Secretaria Municipal do Meio Ambiente de Porto Alegre (SMAM), durante três gestões (1994/1996 – 1999/2000 – 2001/2002), Gerson discorreu sobre o histórico da crescente atenção à questão ambiental, para uma plateia de técnicos da prefeitura da capital.

As discussões sobre possíveis prejuízos decorrentes dos comportamentos humanos no mundo se globalizaram no século passado, em especial, a partir da Conferência de Estocolmo, em 1972, e ganharam projeção gradativa com a Conferência das Partes (COP), que terá sua 30ª edição no Brasil, em Belém, portanto em plena floresta amazônica, em novembro de 2025. O debate ampliado resultou, também, na publicação de protocolos como os de Kyoto (2007), que reuniu países superdesenvolvidos, e de Paris (2015), que incorporou nações em desenvolvimento. Ambos os documentos fixaram metas para a redução da emissão de gases do efeito estufa pelos signatários. Porém, as metas não foram cumpridas.

Para Gerson Almeida, a questão ambiental é, sobretudo, política.

“Uma cidade pode muito! Não falta conhecimento. Tampouco faltam grandes decisões para mitigar os prejuízos do aquecimento global. Mesmo assim, várias regiões do planeta registram eventos extremos: o pantanal seco, o cerrado queimado, incêndios na Flórida e enchentes no Rio Grande do Sul, dentre muitos outros. O ano de 2023 foi o mais quente, até então, deste período interglacial, e 2024 será tão ou mais quente,” advertiu o ex-secretário.

Considerando-se a aceleração do aquecimento global, o sociólogo apresentou um questionamento incômodo.

“Este modelo civilizatório nos coloca diante da impossibilidade de projetar o futuro humano sequer duas décadas à frente. Será porque é grande, cada vez maior, a aproximação entre os eventos climáticos extremos?”, perguntou.

Especificamente sobre a tragédia em que se transformou a recente enchente, em Porto Alegre, Gerson Almeida reiterou que os técnicos, servidores públicos da prefeitura, produziram conhecimento e ações que poderiam ter tornado a vida das pessoas mais seguras.

“Em novembro, os técnicos do DMAE alertaram a gestão sobre a necessidade de reparos e manutenção do Sistema de Proteção Contra as Cheias, mas foram ignorados. A população da capital foi colocada em uma situação de insegurança sem precedentes, em um episódio que consumiu o patrimônio, os negócios e as vidas de pessoas”, afirmou, avaliando que é preciso respeitar os cuidados que o meio ambiente demanda.

Ainda segundo o ambientalista, preservar as áreas de banhado é essencial para evitar tragédias. É o que demonstra a preservação do Mato do Júlio, em Cachoeirinha, que guardou grande parte da água que transbordou do delta do Jacuí, evitando, dessa forma, uma inundação maior naquele entorno. O ocorrido tende a afastar empreendimentos imobiliários que pretendiam aterrar a área para a construção de prédios, como já ocorreu, por exemplo, em Porto Alegre, na Fazenda Ponta do Arado, bairro Belém Novo, e no bairro Humaitá, na zona Norte – onde as edificações foram erguidas em áreas impróprias para construção do ponto de vista ambiental.

Com imensa preocupação sobre os rumos da gestão da cidade, Gerson Almeida finalizou assegurando que o fato de não haver sequer um plano de contingência para eventos climáticos extremos, diante do conturbado contexto ambiental mundial e, principalmente, do ocorrido em maio último no estado, põe por terra o título de Porto Alegre como “capital da inovação”.

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