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Trabalho, dignidade e felicidade, com Carlos Hilsdorf e Domênico De Masi

Confira as palestras de ambos, nas informações da correspondente da Astec na Europa, Dione Borges.

 

Findas as apresentações simultâneas dos papers, onde os congressistas escolheram o tema que lhes interessava participar, houve a conferência de dois renomados palestrantes:
Carlos Hilsdorf – Brasil, e Domênico De Masi – Itália, com o tema: O trabalho na construção da dignidade humana: O ócio criativo e a geração perdida.

Carlos Hilsdorf inicia seu showmen perguntando se é o trabalho que dignifica o homem ou o homem que dignifica o trabalho?  Sem sombra de dúvida é o homem que  dignifica o trabalho. Segundo Hilsdorf, a partir de 1995, temos estudos mais aprofundados sobre o trabalho para reter o profissional na empresa e hoje vemos que o mercado está buscando pessoas com mais idade, valorizando a experiência adquirida, comportamentos e atitudes.

Traz as necessidades do individuo para análise:
– antecedentes
– sexualidade
– temperamento
– personalidade
– caráter (ética)
– senso moral
– transcendência

E o trabalho atende a cada uma dessas  necessidades. Na sexualidade, por exemplo, encontramos a afetividade e o poder. E no trabalho este poder se manifesta: eu posso intimidar você!
O trabalho atende as necessidades básicas de MASLOW (fisiológicas, segurança, afiliação, estima e auto-realização) e podem ser atendidas de forma isolada ou simultaneamente. Isto vai definir qualidade de vida – o ser integral e cita o seguinte pensamento: "cada um leva para onde vai o inferno que tem dentro de si".

As pessoas são contratadas para o trabalho e a economia e gestão exigem produtividade e as pessoas que são mais produtivas são aquelas que têm senso de MISSÃO. Elas possuem significado de vida e do trabalho. Para ilustrar o assunto, trouxe a seguinte questão: Numa guerra, um soldado perde a perna e fica muito feliz e outro perde o dedo e fica muito infeliz. Não deveria ser o contrário? A questão é que aquele que perdeu a perna será enviado de volta para casa, para a esposa, os filhos…e aquele que perdeu o dedo vai continuar na guerra.

Ao longo da história a vida e o trabalho foram perdendo o sentido. Viraram máquinas. O contrato de trabalho estabeleceu o  COMPROMISSO. O comprometimento não está no contrato. É inerente à pessoa. Sua motivação, seu compromisso é algo que as diferencia.

As empresas podem ajudar neste processo de qualidade de vida do trabalhador e as empresas convergentes/coerentes com sua missão e ética são visionárias.
Estamos voltando ao período EDONISTA. Desejamos tempo livre para o ócio Criativo. O trabalhador terá de ser criativo e inovador onde criatividade é fazer coisas novas e inovação é coisa nova que agrega valor. Precisa do ócio para criar e inovar.

Já estamos na era do tele-trabalho, mas passamos muitas horas na empresa. A história da sociedade humana: capital deve remunerar mais para podermos  trabalhar menos. As empresas ainda não compreenderam o verdadeiro conceito de tele-trabalho  e de responsabilidade social. E esta última é feita apenas para cumprir a lei. O mundo do trabalho exige do trabalhador muitas competências e uma delas é ser resiliente, e fica a pergunta: resiliência (passar por alterações sem sofrer o abalo das mesmas) ou injustiça?

Quanto às gerações, traz a seguinte escala no tempo:
Veteranos
Baby boomers
Geração X
Geração Y (anos 80)
Geração Z (recém-nascidos/4 anos)
Geração alpha

Geração perdida: milhões de jovens saem da faculdade para assumir um lugar no mercado de trabalho, mas estamos com 80 milhões de desempregados. E não há empregos para  elas, que estão vivendo de mesada dos pais. Os pais pouparam os filhos, mas têm a missão de deixar filhos melhores para o mundo e consequentemente para termos um mundo melhor. Os filhos precisam de raízes: Educação, Caráter, Espiritualidade. Condições para saírem do senso  comum e entrarem no senso crítico. Termina dizendo que somos responsáveis por nosso destino e encerra perguntando: qual o nosso legado?

Domênico De Masi inicia sua palestra citando Oscar Wilde: "não façam de pé o que podem fazer sentados e não façam sentados se podem fazer deitados". E, com isto inicia a palestra sobre o mundo do trabalho, falando das grandes fases históricas do trabalho:

 7 mil anos até 250 anos – trabalho era de agricultor e artesão (que faz arte); século XVIII, na Europa, grande concentração de riqueza oriunda do Brasil, África etc. (exploração dos povos colonizados e das colônias); grande riqueza e progresso tecnológico. Temos a Revolução Francesa, a Revolução Inglesa e o Iluminismo.
Os gregos cultivavam a precisão artistica e filosófica. Aristóteles dizia que tudo que  os mares podiam já havia sido descoberto. Era preciso cultivar o espírito. Bacon diz o contrário. Tudo o que o espírito precisa já tem. Era preciso tecnologia, Iluminismo. E a Sociedade industrial nasce do iluminismo.

O trabalho evolui, mas separa o homem e a mulher. O homem vai para a fábrica e a mulher cuida da casa.
O que prevaleceu foi a dimensão racional – masculina.

Divisão cientifica do trabalho: cada pessoa faz uma partícula. Trabalho sem inteligência. A inteligência é do empresário. Cada operário coloca uma parte no todo. Exemplo clássico: Tempos Modernos, filme de Chaplin que só aperta parafusos.

Sociedade industrial: Economia de escala com o objetivo de poupar na gestão. Conceito de eficiência=libertação do trabalho. Antes nos libertamos da escravidão. Taylor reduziu o horário de trabalho. Introduziu a semana  de 40 horas e 6 dias na semana. Fayol diminuiu ainda mais.

A partir da segunda guerra, 96% das pessoas trabalhavam nas fábricas;

Na sociedade pós-industrial ou do conhecimento = bens imateriais, símbolos, valores, estética feitos com o cérebro (na sociedade industrial os bens eram materiais).

Hoje, a Itália = intelectual. Fiat trabalha sem indulgência. Cadeia de montagem/trabalho bestial.

A questão é que que vivemos na era pós-industrial, mas estamos usando as regras da sociedade industrial. Usamos a mesma organização do trabalho, como se fosse uma fábrica. Todos os dias as pessoas vão para o trabalho quando poderiam trabalhar de suas casas.
Itália atravessa crise. Temos 2 milhões de jovens desempregados e deixaram de projetar nosso futuro há 20 anos. O futuro era projetado pela Fiat.
O primeiro mundo não quer produzir bens, pois são produzidos em fábricas e estas geram poluição.
A arquitetura é profundamente enraizada no primeiro mundo. O Brasil tem Oscar Niemayer que impôs um estilo brasileiro. Tem 103 anos e é um jovem Brasileiro. Oscar Niemayer tem sentido de vida, de mundo. Isto muda tudo!

O inimigo do operário brasileiro, italiano não será o chefe. Será o operário chinês!
A transformação do trabalho nos 150 anos se divide em trabalhos materiais e trabalhos intelectuais. 1/3 são  tarefas executivas e 1/3  atividades criativas e são estes que podem ter ócio criativo! Se o trabalho for organizado com regras industriais não conseguimos ter ócio criativo. Um trabalhador intelectual se alimenta indo ao cinema, ao teatro, etc. Fiat faz um carro em 40 minutos, há 10 anos levava 10 dias. Isto é conquista!

I Pad vai substituir muitos livros e muitos empregos. Ao eliminar cadeia produtiva, vai tirar trabalho. Trabalho estúpido. "Todos deveríamos fazer apenas trabalho criativo", diz nosso pensador Domênico De Masi. O drama da geração perdida se deve à incapacidade de lidar com o novo modelo de vida. Políticos que não querem mudar. Todos no mundo ocidental acreditam no crescimento infinito.
Na Itália, há 30 anos, se diz que vai haver o crescimento e não vejo crescimento. É impossível haver possibilidade de crescimento infinito. Estamos acostumados ao desperdício e à exploração.
 
O Brasil está saindo da exploração e espero que o Brasil, que está decolando, aprenda com as experiências da Europa que cada vez tem menos trabalho. Antes as mulheres não trabalhavam, os deficientes não trabalhavam e hoje grande parte do trabalho é feito por máquinas. Os economistas encontraram a seguinte fórmula: O pai trabalha 10 horas, mas o filho não tem trabalho. O filho consome com o dinheiro do pai.
Na Itália, 2 milhões de dirigentes fazem duas horas extras diárias, que não são pagas. Há folia no trabalho. E são 4 milhões de horas de emprego tirados dos filhos.
O trabalho hoje pode ser feito em casa. Não há necessidade de ir ao escritório. Um trabalhador criativo se alimenta indo ao tetro, cinema, etc. não fosse assim não teríamos descoberto o DNA. Trabalhamos com o cérebro. Podemos fazer muitas coisas: trabalhar, aprender, brincar. Ócio criativo sempre! O que estamos fazendo aqui, agora? Ócio criativo!
Felicidade é o objetivo principal da nossa existência. Hoje não compreendemos a vida e a morte. Não sabemos o que é bonito ou feio, o que é direita ou esquerda, o que é homem ou mulher, o que é família.
Temos pessoas digitais (que viajam, usam facebook, não são racistas, são multiculturais) e pessoas analógicas (distantes da tecnologia, do novo).
Mudança é vital. Precisamos  aprender a nos beneficiar das vantagens do pós-industrial.
Precismos eliminar os paradoxos e entender que as pessoas têm vida mais longa, se aposentam mais cedo, as mulheres estão melhores que os homens. Os executivos devem conhecer o mundo e ficam dentro dos escritórios.
Longevidade: 2020 a população terá mais de 1 bilhão  de pessoas e, no séc. XXI, descobrimos a engenharia genética e a nanotecnologia. Como transferir o patrimônio do bolso para o cérebro?
Como evitar o tédio e a violência? O tempo livre vai gerar mais violência ou Paz Social?
Androgenia: As mulheres vão gerir o poder com dureza devido aos 400 mil anos de subserviência.
Ética: Nova estética se encarregará da felicidade e da nova ética;
Cultura: mais importância à biosfera;
O mundo do trabalho exige que estejamos a par do pós-industrial;
Disponibilidade: “se dependesse de mim, não seria nunca moderno, eu seria sempre incompleto e experimental”. Fazer face às mudanças.
Flexibilidade: Luta entre linha reta. Em Oscar Niemayer, encontramos lição ao racionalismo industrial: Não é linha reta, é linha curva e sensual, nos rios, nos montes do meu país, nas ondas do mar e no corpo da mulher amada.

Por Dione Borges, direto de Turim, na Itália.

Mais informações no site do VII Congresso Internacional.Confira.

ASSOCIATIVISMO PARTICIPATIVO SE FAZ COM UNIÃO E PLURALIDADE.
DIRETORIA EXECUTIVA GESTÃO 2011-2012

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