O prefeito Marchezan Júnior a cada dia que passa torna mais evidente o seu despreparo para o exercício do cargo. Decorridos quase 27 meses de seu período de governo o saldo é modesto: o mais baixo nível de investimentos na cidade das últimas décadas, praças e parques abandonados, faltam professores e profissionais na área da saúde, buracos nas ruas, trânsito caótico, servidores municipais desmotivados pelo congelamento dos salários e pelo aumento do desconto previdenciário, além da constante ameaça de destruição de sua carreira funcional.
Mas a coisa é pior, o Júnior pirou: meses atrás afirmou que a Prefeitura prestava seus serviços graças a dedicação de seus cargos em comissão. Como se seus protegidos, os CCs, pudessem atender uma clientela de 72 mil alunos matriculados em 99 escolas municipais, acolhessem e tratassem de 322 mil pessoas que anualmente demandam o HPS, atendessem a população infantil no Presidente Vargas que interna 6 mil crianças/ano e realiza mais de 900 mil procedimentos médico-ambulatoriais e realizassem mais de 500 mil visitas a famílias pobres da periferia inscritas no Programa de Saúde da Família. Há, ainda, os serviços de assistência social, coleta de lixo, abastecimento e distribuição de água para quase um milhão de economias, manutenção das praças e parques, licenciamento ambiental, licenciamento e fiscalização de obras, lançamento e cobrança de tributos, dentre um universo de múltiplas funções e atividades fundamentais à vida do porto-alegrense.
Desde o primeiro dia da sua gestão Júnior se colocou na defensiva afirmando que a Prefeitura estava falida, que a situação financeira era um caos, semelhante à do Estado. Foi o seu primeiro “fake”: apesar de algumas limitações decorrentes da crise econômica e da má gestão orçamentário-financeira do governo anterior, as dificuldades eram facilmente superáveis.
A Prefeitura tem uma dívida consolidada pequena (a do Estado é enorme), o pagamento de juros e amortizações é muito baixo (no Estado é altíssimo) e segundo o Tribunal de Contas (TCE-RS) compromete apenas 43% da sua receita com pessoal (no Estado o comprometimento atinge 62%). Continuou seu discurso prevendo no seu primeiro orçamento (o de 2018) um déficit de 708 milhões. O balanço publicado no final de janeiro passado registrou um superávit de 363 milhões. Apesar das tentativas de explicação do absurdo, os números tornam clara a manipulação realizada para pintar o caos. No desespero, ele tenta justificar as privatizações (DMAE e CARRIS).
Acho que não é só isso, que a coisa vai além. Político novo, sem nenhuma experiência administrativa, inseguro, se assustou e respondeu mal aos desafios que teria que enfrentar e superar. Seu destempero, sua agressividade tem origem na sua insegurança, no medo de fracassar. E, invariavelmente, quem tem medo de fracassar, fracassa.
Semana passada o Júnior passou dos limites, se excedeu. Numa entrevista a uma rádio da capital, mais tarde repercutida com destaque na imprensa escrita teve a coragem de afirmar que a Prefeitura destinava metade da sua receita, 3,5 bilhões/ano para pagar 33 mil servidores, sobrando apenas a outra metade para atender 1 milhão e quatrocentos mil porto-alegrenses. Burrice, tiro no pé, grosseria. Ele tenta jogar a opinião pública contra o funcionalismo e o serviço público como se uma prefeitura, um governo do Estado ou a União pudessem funcionar sem o trabalho dos servidores que prestam serviços nas áreas da educação, da saúde, da assistência social, do meio ambiente, do saneamento público, da segurança, dentre outras.
Eduardo Leite, o novo governador, seu companheiro de partido, também neoliberal de carteirinha, que em janeiro assumiu um governo do Estado que gasta 62% do que arrecada para pagar pessoal (42 bilhões de uma receita total de 68 bilhões), certamente não vai imitar Marchezan Júnior, para tornar pública as dificuldades que está enfrentando. Ele tem consciência que é gol contra, burrice.
ASTEC – Diretoria Executiva 2019/2020
RESISTIR E AVANÇAR