

1) Engenheiro Guilherme, caso ocorra um evento climático parecido com as enchentes de 1941 ou de 2024, como funcionará o sistema de drenagem pluvial de Ipanema, agora com a mureta de concreto armado construída pela prefeitura de Porto Alegre no passeio dessa praia?
A mureta que está sendo construída em Ipanema, junto com a reforma (para pior) do passeio público, servirá apenas como um comprido banco ao longo do Calçadão, e nada mais.
Ela ficará com uma altura de 45 cm a partir da calçada e os registros do nível da água na Av. Guaíba realizados em maio de 2024 chegaram a 95 cm, ou seja, meio metro acima da crista da mureta.
Além disso, chegam na Praia de Ipanema os Arroios Capivara e Espírito Santo, que drenam duas bacias hidrográficas do bairro. Ora, como as suas margens não serão elevadas pela reforma atual, as águas do Guaíba entrarão em Ipanema através dos referidos mananciais. Da mesma forma, há várias canalizações pluviais que chegam à praia. Assim como nos arroios, uma forte elevação do Guaíba “empurrará” as águas para Ipanema, inundando-a através das bocas-de-lobo dessas tubulações.
A mureta inicia um pouco antes da Rua Déa Coufal e termina próximo da Rua Eng.º Coelho Parreira. Ora, pelas suas extremidades abertas, as águas do Guaíba também entrarão no bairro, caso haja uma grande elevação como a ocorrida no ano passado.
Com a deficiência atual no sistema de drenagem do bairro, onde faltam canalizações e sobra assoreamento nos arroios (principalmente no Capivara, que é o maior), uma chuva localizada na região, traz alagamento para as suas ruas. As águas pluviais corriam para a Avenida e chegavam ao Guaíba por grandes trechos da via, ajudando, assim, na drenagem local. Agora, a mureta vai impedir esse movimento, o escoamento se dará pelos arroios e pelas canalizações (que estarão sobrecarregados), perdurando muito mais os alagamentos em Ipanema.
Como vemos, a mureta (ou o longo banco) irá prejudicar o bairro.
2) A comunidade do bairro Ipanema foi ouvida quanto à implementação dessa obra?
Não. Esta obra, que foi anunciada como contrapartida a ser realizada por empresa privada localizada na Av. Diário de Notícias e que está construindo um enorme condomínio de valor elevado, na verdade é o pagamento de área adquirida ao Município, também localizada naquela avenida, e deveria ter sido licitada. Constitui este aspecto, portanto, uma ilegalidade. A comunidade de Ipanema foi surpreendida quando, em outubro de 2024 (às vésperas do segundo turno do pleito municipal, aparentemente querendo tirar proveito eleitoral), ela teve início. Ninguém tinha conhecimento do que seria feito nesse local tão importante da nossa capital, nenhuma reunião ocorreu para consultar, ou mesmo informar, sobre o que seria realizado.
3) É público que há um temor de que ocorram fortes precipitações pluviométricas e o nível do Guaíba passe por cima da mureta e invada o bairro Ipanema. O DMAE, atual responsável pela drenagem urbana de Porto Alegre, foi consultado sobre as consequências da construção dessa mureta caso isso ocorra?
Além de não ter consultado ou informado a comunidade do bairro, o Executivo Municipal encaminhou esta obra sem o conhecimento dos técnicos do Departamento Municipal de Água e Esgotos (DMAE). Tudo foi definido no âmbito da Secretaria Municipal de Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade (Smamus), que não tem conhecimento ou responsabilidade sobre a drenagem da cidade. Fica a desconfiança de que não houve discussão com os responsáveis pelo assunto, exatamente porque não seria aprovado pelo DMAE, já que não ajuda na prevenção às inundações e prejudica no caso de alagamento do bairro.
4) Caso a mureta seja prejudicial para a drenagem de Ipanema, qual solução o sr. proporia para minimizar os equívocos dessa construção?
Como a mureta, agora em julho de 2025, está praticamente concluída, o que precisa ser feito é demolir vários trechos dela para que a saída da água pluvial, em caso de grande precipitação em Ipanema, chegue ao Guaíba rapidamente. Esses trechos sem a presença da mureta também facilitarão o acesso das pessoas à praia. Apesar de haver algumas rampas para acessar a areia, elas estão distantes umas das outras e os frequentadores tenderão a passar por cima da mureta; junto à mesma, foi executado um enrocamento (barreira de pedras de diferentes tamanhos) para lhe dar mais resistência, acentuando a possibilidade de acidentes, principalmente com crianças e idosos.
5) Como o sr. avalia o fato de a prefeitura ter ignorado o Plano Diretor de Drenagem Urbana na escolha das obras para essa região, já que é sabido que há uma precariedade na drenagem do bairro Ipanema?
Absolutamente lamentável! Esse investimento feito em Ipanema, sem consultar a comunidade e os técnicos da área da drenagem, é completamente descabido. Houvesse esses cuidados acima referidos, outras prioridades teriam sido elencadas para melhorar a drenagem e a defesa de Ipanema.
Da mesma forma que o atual prefeito e sua equipe não fizeram a manutenção das comportas do Muro da Mauá e das comportas de algumas casas de bombas – apesar de terem sido alertados por relatório dos técnicos do DMAE a partir da forte precipitação pluviométrica de novembro/2023, e como consequência ocorreu a inundação do 4º Distrito, do Humaitá, do Centro Histórico, da Cidade Baixa e do Menino Deus –, aqui também a Prefeitura não se preocupou em estudar o que estabelece o Plano Diretor de Drenagem Urbana para Ipanema. Poderia, então, ter usado esse recurso em torno de R$ 10 milhões para executar obras do Plano Diretor e melhorar a proteção do bairro.
É perceptível que o atual comandante da Prefeitura e sua equipe de secretários não gostam de estudos e planos, não gostam de ciência e tecnologia; realizam o que interessa aos empresários, principalmente da construção civil.
6) Em chuvas de média intensidade no bairro Ipanema e com o Guaíba em nível alto, os esgotos pluviais, os arroios Capivara e Espírito Santo têm dificuldade de lançar seus efluentes no Guaíba e estão até sujeitos a refluxos. Nessa situação, o bairro fica alagado mesmo que a água não atinja a parte superior do muro. Quando isto voltar a acontecer, o muro ajudará ou atrapalhará a drenagem pluvial?
Já mostramos anteriormente que a mureta, que não passa de um banco muito comprido, não ajudará nos momentos de subida drástica do nível do Guaíba e prejudicará a comunidade quando ocorrer chuva com alto índice pluviométrico, já que represará a água e não a deixará chegar ao grande manancial, como ocorria em vários pontos da Avenida Guaíba, anteriormente.
7) Há algo mais que o sr. julgue importante destacar sobre este assunto?
O Sistema de Proteção edificado em Porto Alegre a partir da inundação de 1941, que se mostrou eficiente e robusto e que os bairros citados acima não teriam sido prejudicados caso tivesse havido manutenção adequada nos anos recentes, inicia na autoestrada, nas imediações da Av. Assis Brasil, e vai até a Av. Diário de Notícias. Portanto, toda a Região Sul, a partir do bairro Assunção até o Lami, no Extremo-Sul, não possui proteção contra a subida forte do Guaíba. E por todo o dano que temos feito à natureza (aquecimento global, desmatamento, ocupação de encostas e vales etc.), é de se esperar uma frequência e magnitude cada vez maior dos fortes eventos climáticos.
Esta deve ser uma luta central das comunidades de todas essas regiões para que seja construída uma proteção adequada. E se deve aproveitar o momento atual, quando o governo federal disponibiliza um volume enorme de recursos financeiros, para que seja realizado estudo e, a seguir, os projetos para a construção desse sistema para toda a orla do Guaíba, desde a Vila Assunção até o Lami, atualizando e mantendo o sistema construído anteriormente. Com os projetos, se iniciará uma nova luta fundamental para a população, que será a busca por recursos para a construção da continuidade do sistema de proteção.
Todo esse estudo e realização de projetos deve partir do Plano Diretor de Drenagem Urbana, que precisa ser atualizado. O Plano Diretor de Drenagem Urbana foi realizado em 2002, pelos técnicos do Departamento de Esgoto Pluviais (DEP) e, infelizmente, foi extinto pelo ex-prefeito Marchezan Júnior.
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