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9º Café Temático | DEScomemoração do Golpe de 1964: para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça!

Para que não se esqueça, para que nunca mais aconteça, a DEScomemoração do Golpe de 1964 contou com testemunhos para refletir sobre a relação da violência de Estado e o serviço público | Fotos: Ruvana De Carli/CarliCom

A Astec e o Instituto SIG de Psicanálise e Política, através do Coletivo Testemunho e Ação (TA), realizaram uma Roda de Conversa alusiva aos 60 anos do golpe civil-militar no Brasil. O evento, realizado na noite da terça-feira, 05 de novembro, contou com o apoio do Sindicato dos Muncipários (Simpa) e da Associação dos Trabalhadores em Educação do Município de Porto Alegre (Atempa).

No auditório do Simpa, associados da Astec, servidores municipais e muitas outras pessoas foram acolhidas com gentileza e um saboroso lanche, enquanto se preparavam para ouvir os testemunhos dos convidados sobre suas experiências nos duros anos de governo ditatorial: as integrantes do Coletivo Testemunho em Ação, Heliete Karam, Clínica do Trabalho e doutora em Psicologia Clínica, e Maria Luiza Castilhos F. Cruz, psicóloga, servidora aposentada e filha de preso político; e Paulo de Tarso Carneiro, advogado, aposentado do Banco do Brasil e ex-preso político. Os depoimentos foram mediados pela diretora Administrativa da Astec, psicóloga Elaine Rosner Silveira, e entremeados por clássicos da música latino-americana dos anos 60, 70 e 80, executadas  pelos músicos Ricardo Pacheco e Marcelo Pimentel, que emocionaram a plateia.

Elaine Rosner Silveira

O trabalho do Coletivo Testemunhos em Ação originou-se com um projeto maior de criação de memórias coletivas que, compartilhadas pelos que viveram essas experiências, ajudam a reconstituir a nossa própria história. As Clínicas do Testemunho foram criadas em 2012, no governo de Dilma Roussef, pela Comissão de Anistia, visando a reparação psíquica das pessoas afetadas pela ditadura brasileira. O trabalho foi inicialmente interrompido no período do governo de Michael Temer e foi encerrado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro. Com o objetivo de oferecer uma reparação psíquica aos que sofreram perseguição política durante a Ditadura de 1964, as Clínicas do Testemunho deixaram como legado a contribuição da psicanálise na escuta dessas experiências.

Maria Luiza Castilhos F. Cruz

A psicóloga Maria Luiza Castilhos F. Cruz emocionou a plateia ao relatar como, aos nove anos de idade, junto com seus dois irmãos menores, presenciou a prisão do seu pai, em casa, na pequena cidade de Rosário do Sul, na fronteira oeste do Rio Grande do Sul. A vigilância permanente do governo sobre os estudantes, os profissionais da área da saúde mental e as dificuldades de acesso ao serviço público naquele momento também foram abordados por Maria Luiza.

Heliete Karam

Na sequência, manifestou-se Heliete Karam, doutora em Psicologia Clínica pelo Conservatório Nacional de Artes e Ofícios de Paris (CNAM) e membro da Associação Internacional dos Especialistas em Psicodinâmica do Trabalho, que desde 1997 exerce a psicologia do trabalho em instituições públicas brasileiras. Heliete contou um pouco de sua trajetória na Petrobrás e das dificuldades enfrentadas para realizar o seu trabalho em uma conjuntura de desmonte patrimônio público. Ela também presenteou o acervo bibliográfico da Astec com o livro “Psicodinâmica do trabalho: contribuição ao método”, obra de sua autoria na qual compartilha, de forma crítica, recortes de sua experiência, reflexões e preocupações, esforçando-se para esclarecer demandas sobre o fazer clínico no âmbito do trabalho e considera que escutar o sofrimento humano é um ato político.

Paulo de Tarso Carneiro

Encerrando os testemunhos, o advogado e bancário aposentado Paulo de Tarso Carneiro traçou uma linha de tempo sobre sua atuação política, iniciada em 1963, na campanha salarial do Sindicato dos Bancários, que deflagrou uma greve de 16 dias, ao final da qual foi demitido, após três meses de trabalho no Sulbanco. Durante a militância, conviveu com companheiros que nutriam os mesmos sonhos, de um Brasil socialista, que defendiam os ideais preconizados pelo governo do então presidente João Goulart e se opunham ao conservadorismo que levou ao golpe cívico-militar, ocorrido em 1º de abril de 1964. No Colégio Júlio de Castilhos, o “Julinho”, o contato com partidos e organizações de esquerda integrados ao movimento estudantil o levaram, inicialmente, a trabalhar por um enfrentamento pacífico da Ditadura. Entretanto, com o endurecimento cada vez maior do que chamou de “terrorismo de Estado”, convenceu-se da necessidade de participar da resistência armada e, com ajuda de Carlos Araújo, engajou-se na Var-Palmares. Em 1970, foi sequestrado dentro da agência do Banco do Brasil, em Garibaldi, sofrendo todas as consequências de um processo cujo objetivo era a destruição moral, psíquica e, mesmo, física, dos combatentes revolucionários. Foi mantido preso por um ano e demitido por justa causa, por atos contra o regime militar. Mesmo assim, não desistiu da luta. Acompanhava o movimento político nacional, auxiliava na saída de companheiros do Brasil, rumo ao Chile, governado por Salvador Allende, e contatava companheiros que não tinham sido presos. Em 1976, já se engajava em organização clandestina para continuar lutando por democracia e socialismo. E faz questão de salientar que manter o bom humor é um ato de resistência.

Após os testemunhos, a palavra foi aberta à plateia para comentários e perguntas. O evento foi encerrado com música e confraternização entre os presentes.

Ricardo Pacheco e Marcelo Pimentel emocionaram a plateia com clássicos da música latino-americana

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